Histórico 2020
17.12.2020 - 25.04.2021
QUE HORAS SÃO QUE HORAS
Uma galeria de histórias
A exposição Que horas são que horas: uma galeria de histórias parte de um convite da Galeria Municipal do Porto a três curadores para uma reflexão sobre a paisagem histórica das galerias de arte no Porto, inscrita entre a aparente abertura cultural do final da Segunda Guerra Mundial e a retração do tecido cultural provocada pela recente crise económica. Um olhar sobre esta cronografia permite compreender as muitas faces da civitas e as cumplicidades transformadoras entre artistas, agentes culturais e públicos que a conformam.
Este retrato retrospetivo atravessa as exposições independentes em livrarias que ensaiaram uma profissionalização alternativa da arte, recorda o confronto com novos públicos e espaços cívicos que só a revolução de 1974 permitiu até à celebração das inaugurações simultâneas na rua Miguel Bombarda, culminando na rede de lugares alternativos organizada para resistir à Troika.
Contra o regime ou com o seu apoio, num vazio institucional ou alimentando museus, herdeira de um contexto social conservador isento de discurso crítico e resistente à inscrição de novas gerações de artistas, a paisagem histórica das galerias de arte no Porto é feita de cidadania e comércio, de uma arte não apenas de culto, mas com valor de troca: uma galeria de histórias.
Este retrato retrospetivo atravessa as exposições independentes em livrarias que ensaiaram uma profissionalização alternativa da arte, recorda o confronto com novos públicos e espaços cívicos que só a revolução de 1974 permitiu até à celebração das inaugurações simultâneas na rua Miguel Bombarda, culminando na rede de lugares alternativos organizada para resistir à Troika.
Contra o regime ou com o seu apoio, num vazio institucional ou alimentando museus, herdeira de um contexto social conservador isento de discurso crítico e resistente à inscrição de novas gerações de artistas, a paisagem histórica das galerias de arte no Porto é feita de cidadania e comércio, de uma arte não apenas de culto, mas com valor de troca: uma galeria de histórias.
04.12.2020 - 25.04.2021
NETS OF HYPHAE
DIANA POLICARPO
Convulsões, alucinações, sensações de ardor. O parasita da cravagem que infeta o centeio é conhecido como sendo a causa do ergotismo, ou Fogo de Santo António. Em pequenas doses, o fungo tem sido tradicionalmente usado por curandeiras para provocar abortos. No entanto, o conhecimento destas, assente na experiência e no conhecimento da terra e das plantas, foi erradicado pelo progresso do capitalismo patriarcal, que o substituiu pela obstetrícia. Ainda hoje os historiadores especulam se o ergotismo terá tido um papel nas acusações de bruxaria contra mulheres durante a crise de Salém em 1692, assim como contra os xamãs Sámi nos julgamentos de Finnmark em 1621, e noutras ocasiões.
A exposição Nets of Hyphae, de Diana Policarpo, com curadoria de Stefanie Hessler (Diretora da Kunsthall Trondheim), estabelece relações especulativas entre as redes de fungos da cravagem e a saúde das mulheres. Desenvolvidos especificamente no contexto deste projeto, os seus trabalhos em vídeo, animação, têxteis e ambientes sonoros criam paralelos entre o ciclo dos fungos, a justiça reprodutiva e os conhecimentos de parteiras, curandeiras e agricultoras em precariedade e resistência. Centrando-se nas perspetivas feministas dos alucinogénios e trabalhando com a biohacker transfeminista Paula Pin, Policarpo concebe paralelismos especulativos entre o ergotismo, a supressão de conhecimentos ancestrais e a justiça na saúde.
A exposição Nets of Hyphae, de Diana Policarpo, com curadoria de Stefanie Hessler (Diretora da Kunsthall Trondheim), estabelece relações especulativas entre as redes de fungos da cravagem e a saúde das mulheres. Desenvolvidos especificamente no contexto deste projeto, os seus trabalhos em vídeo, animação, têxteis e ambientes sonoros criam paralelos entre o ciclo dos fungos, a justiça reprodutiva e os conhecimentos de parteiras, curandeiras e agricultoras em precariedade e resistência. Centrando-se nas perspetivas feministas dos alucinogénios e trabalhando com a biohacker transfeminista Paula Pin, Policarpo concebe paralelismos especulativos entre o ergotismo, a supressão de conhecimentos ancestrais e a justiça na saúde.
12.09 – 15.11.2020
PRÉMIO PAULO CUNHA E SILVA
2.ª EDIÇÃO
O Prémio de Arte Paulo Cunha e Silva foi criado pela Câmara Municipal do Porto, como homenagem ao antigo vereador da cultura Paulo Cunha e Silva, direcionando-se a artistas com menos de 40 anos. O júri da segunda edição do prémio – Isabel Lewis, John Akomfrah, Margarida Mendes e Shumon Basar – analisou os portefólios de 48 artistas selecionados por um conjunto de 16 curadores por eles indicados. Por fim, os quatro jurados selecionaram seis finalistas, provenientes de diferentes geografias culturais e com práticas artísticas bastante distintas, cujas vozes, na sua opinião, articulam o momento atual e o que está por vir. O júri manifestou-se comovido pela sua beleza, ternura, especulação política ou simplesmente pela sua magia. O vencedor será anunciado no decorrer da exposição.
12.09 – 15.11.2020
WAVES AND WHIRLPOOLS
LUÍS LÁZARO MATOS
Inspirada na forma triangular do espaço da mezzanine da Galeria Municipal do Porto como uma potencial metáfora do Triângulo das Bermudas, a nova série de obras criada por Luís Lázaro Matos transporta-nos para um remoinho de imagens suspensas no espaço.
Com curadoria de Martha Kirszenbaum (curadora do Pavilhão de França na 58.ª Bienal de Veneza, 2019), o projeto expositivo nasce do fascínio do artista pela mitologia do mar. Sendo a música uma das principais componentes da sua prática, Luís Lázaro Matos inspirou-se nos sete temas do seu mais recente álbum, Waves and Whirlpools, para criar os sete dípticos que constituem a exposição homónima.
As composições pictóricas e musicais, concebidas a partir de camadas sobrepostas de tinta e de sons, convidam a uma imersão em universos místicos, românticos e perturbantes, onde se distingue uma fantasia suprema de domínio sobre o oceano e as suas ondas incontroláveis.
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Texto Curatorial
Para a sua exposição individual na Galeria Municipal do Porto, Luís Lázaro Matos (1987) – artista sediado em Lisboa e cuja prática abrange a pintura, o desenho, a música e a performance – criou um conjunto de sete dípticos inspirados em sete canções lançadas recentemente que contêm referências à mitologia do mar.
Lázaro Matos pinta intrigantes cenários repletos de ondas azul-escuras e palmeiras ‘cartoonescas’ sorridentes , assombrados por criaturas fantásticas como tartarugas marinhas, raias, polvos, baleias, mas também por pássaros e uma cadela astronauta chamada Laika. A iconografia que o artista apresenta poderá lembrar o realismo mágico da artista portuguesa Paula Rego, cuja interpretação dos contos de fadas se tornou uma importante fonte de inspiração para a sua própria abordagem. Uma personagem é recorrentemente retratada na exposição – trata-se de um autorretrato alegórico de um músico transformado em tartaruga marinha, que faz uma serenata a uma figura egípcia numa cena que evoca o Êxodo e a partição do Mar Vermelho, expressando, deste modo, a derradeira fantasia do artista de ter poder sobre o oceano e as suas incontroláveis ondas e correntes. Lázaro Matos delineou também misteriosos seres alienígenas, ecoando o seu fascínio por teorias da conspiração e pelo Triângulo das Bermudas, uma das fontes de inspiração para este projeto, também evocada pela forma arquitetónica do espaço da exposição.
Cada pintura inclui uma longa corda negra que parece interligar e relacionar todas as obras, como um fio de Ariadne sob a forma de um cabo áudio, relembrando-nos que a música está presente no âmago do trabalho de Luís Lázaro Matos. Para esta série em particular, o artista criou sete temas num punk animado e barulhento, estilisticamente inspirados pelas músicas da banda americana Sonic Youth. As letras e títulos de cada uma das canções abordam e elucidam os temas desenvolvidos nesta série de pinturas: Red Sea [Mar Vermelho], Whirlpools [Redemoinhos], Laika Surfing Cosmic Waves [Laika surfando ondas cósmicas] e Tsunami, entre outras. Nas composições musicais do artista, o arranjo baseia-se na sobreposição de diferentes instrumentos, um método também usado nas suas pinturas, com a aplicação de diversas demãos de primário e camadas de tinta. A história contada pelas suas telas é ainda pontuada pelo aparecimento de vários instrumentos musicais (guitarras, teclados ou microfones) – presença que faz transparecer um universo visual profundamente místico, romântico e perturbante.
Com curadoria de Martha Kirszenbaum (curadora do Pavilhão de França na 58.ª Bienal de Veneza, 2019), o projeto expositivo nasce do fascínio do artista pela mitologia do mar. Sendo a música uma das principais componentes da sua prática, Luís Lázaro Matos inspirou-se nos sete temas do seu mais recente álbum, Waves and Whirlpools, para criar os sete dípticos que constituem a exposição homónima.
As composições pictóricas e musicais, concebidas a partir de camadas sobrepostas de tinta e de sons, convidam a uma imersão em universos místicos, românticos e perturbantes, onde se distingue uma fantasia suprema de domínio sobre o oceano e as suas ondas incontroláveis.
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Texto Curatorial
Para a sua exposição individual na Galeria Municipal do Porto, Luís Lázaro Matos (1987) – artista sediado em Lisboa e cuja prática abrange a pintura, o desenho, a música e a performance – criou um conjunto de sete dípticos inspirados em sete canções lançadas recentemente que contêm referências à mitologia do mar.
Lázaro Matos pinta intrigantes cenários repletos de ondas azul-escuras e palmeiras ‘cartoonescas’ sorridentes , assombrados por criaturas fantásticas como tartarugas marinhas, raias, polvos, baleias, mas também por pássaros e uma cadela astronauta chamada Laika. A iconografia que o artista apresenta poderá lembrar o realismo mágico da artista portuguesa Paula Rego, cuja interpretação dos contos de fadas se tornou uma importante fonte de inspiração para a sua própria abordagem. Uma personagem é recorrentemente retratada na exposição – trata-se de um autorretrato alegórico de um músico transformado em tartaruga marinha, que faz uma serenata a uma figura egípcia numa cena que evoca o Êxodo e a partição do Mar Vermelho, expressando, deste modo, a derradeira fantasia do artista de ter poder sobre o oceano e as suas incontroláveis ondas e correntes. Lázaro Matos delineou também misteriosos seres alienígenas, ecoando o seu fascínio por teorias da conspiração e pelo Triângulo das Bermudas, uma das fontes de inspiração para este projeto, também evocada pela forma arquitetónica do espaço da exposição.
Cada pintura inclui uma longa corda negra que parece interligar e relacionar todas as obras, como um fio de Ariadne sob a forma de um cabo áudio, relembrando-nos que a música está presente no âmago do trabalho de Luís Lázaro Matos. Para esta série em particular, o artista criou sete temas num punk animado e barulhento, estilisticamente inspirados pelas músicas da banda americana Sonic Youth. As letras e títulos de cada uma das canções abordam e elucidam os temas desenvolvidos nesta série de pinturas: Red Sea [Mar Vermelho], Whirlpools [Redemoinhos], Laika Surfing Cosmic Waves [Laika surfando ondas cósmicas] e Tsunami, entre outras. Nas composições musicais do artista, o arranjo baseia-se na sobreposição de diferentes instrumentos, um método também usado nas suas pinturas, com a aplicação de diversas demãos de primário e camadas de tinta. A história contada pelas suas telas é ainda pontuada pelo aparecimento de vários instrumentos musicais (guitarras, teclados ou microfones) – presença que faz transparecer um universo visual profundamente místico, romântico e perturbante.
02.06 – 19.07.2020 / PALÁCIO DAS ARTES
PROJETO SATÉLITE: ANUÁRIO 19
Anuário é uma exposição e, em simultâneo, uma análise reflexiva sobre as práticas curatoriais e artísticas desenvolvidas no Porto ao longo de um ano. Integrado na plataforma Pláka – que agrega os programas de apoio do município à arte contemporânea – o projeto foi concebido por João Ribas e Guilherme Blanc e é desenvolvido anualmente por um coletivo de curadores convidados pelos dois para acompanhar, documentar e analisar projetos artísticos apresentados em espaços (de acesso público) da cidade. Esta é uma exposição que resulta de um trabalho continuado de pensamento sobre a produção artística e de um processo de curadoria participado, em que as perspetivas de diversos curadores confluem num entendimento sobre a arte no Porto no último ano.
02.06 – 16.08.2020
APESAR DE NÃO ESTAR, ESTOU MUITO
DIOGO JESUS
Há mais de uma década que Diogo Jesus produz desenhos, textos, banda desenhada e música sob vários pseudónimos. Como RUDOLFO edita e publica fanzines e música em edições de autor desde os 16 anos; desde então já criou mais de 40 publicações independentes e participou em diferentes antologias de banda desenhada, tanto em Portugal como noutros países; paralelamente, tem colaborado com diversos artistas, músicos e escritores. Com curadoria de João Ribas (ex‑diretor do Museu de Serralves e curador do Pavilhão de Portugal na 58ª Bienal de Veneza, 2019), a exposição reúne as obsessões autobiográficas do artista e a sua distinta perspetiva da cultura popular. Nos seus desenhos e bandas desenhadas, o seu elenco de pessoas, mutantes, alienígenas e tudo o que se encontra pelo meio proporciona um incessante comentário sobre questões como a criatividade, o género e a masculinidade, e as condições de produção de arte, simultaneamente desafiando os limites do livro de banda desenhada. Apesar de não estar, estou muito apresenta desenhos, objetos, vídeos e textos de uma miríade de projetos e publicações do artista a partir de 2007, desde as suas primeiras bandas desenhadas underground independentes até aos seus mais recentes projetos como DJ Nobita e Gekiga Warlord, todos atravessados tanto pelo seu sarcástico humor como por uma dilacerante honestidade.
02.06 – 16.08.2020
MÁSCARAS (MASKS)
As máscaras têm um lugar na história das sociedades desde tempos remotos. Atualmente, enquanto sintoma de um tempo de transformações extremas, as máscaras adquiriram uma renovada relevância e premência, materializando-se sob diversas aparências. Desde avatares usados online para fins de entretenimento, propaganda ou ativismo até aos diferentes movimentos que nos levam a ocupar ou abandonar as ruas, a nossa vida quotidiana ritualizada está hoje repleta de práticas de caricatura, camuflagem, disfarce, face-swapping, mascarada, imitação, proteção, ridículo, maquilhagem social, entre outras. João Laia (curador-chefe de exposições no Kiasma Museum of Contemporary Art) e Valentinas Klimašauskas (curador, escritor e um dos curadores do Pavilhão da Letónia na 58ª Bienal de Veneza, 2019) propõem um olhar sobre a profunda reformulação em curso das nossas múltiplas identidades históricas, sociopolíticas, sexuais e transcendentais, questionando os atuais processos em que nos metamorfoseamos de uma em outra.