Programação 2023
A programação da Galeria Municipal do Porto para 2023 desdobra-se em dois eixos centrais.
O primeiro tem como missão investigar, articular e expor, através da arte contemporânea, a profunda relação que existe no Porto entre cidade e ambiente natural, contexto urbano e rural, ecologia e criatividade, imaginando a cidade enquanto epicentro, a partir do qual se investiga a identidade artística e os imaginários criativos contemporâneos, bem como as zonas de fricção e de tensão e luta de um território que existe para além das fronteiras conhecidas entre Portugal e Espanha, que é o Noroeste Ibérico Atlântico. Irá concretizar-se através de duas exposições: Desejos Compulsivos, que considera as questões da extração do lítio entre natureza e economia no território do Norte da Península Ibérica, e Norte Silvestre e Agreste, que irá analisar os imaginários rurais e mitológicos criados por jovens artistas entre o Norte de Portugal e a Galiza.
O segundo eixo visa revelar a forma como a vida artística do Porto existe em diálogo e permuta com um contexto internacional vibrante e atualizado, concretizando a sua vocação e aspiração cosmopolita através de iniciativas de ponte como exposições, residências, festivais, apoios à internacionalização. Exemplos disso serão a exposição Dueto — um diálogo entre Maria Paz e Joan Jonas — e a exposição do Prémio Paulo Cunha e Silva, agora na sua terceira edição e com um novo formato.
25.03 - 28.05.2023
Desejos Compulsivos: A Extração do Lítio e as Montanhas Rebeldes
Desejos Compulsivos — A Extração do Lítio e as Montanhas Rebeldes abordou a problemática existente entre extrativismo e exaustão, produtividade e burn-out, atravessando diferentes escalas. Com curadoria de Marina Otero Verzier, a exposição tomou como ponto de partida os planos de extração de lítio em curso no Norte de Portugal e as lutas suportadas pelas comunidades locais, pelas suas vidas e direitos. Batalhas que enfatizam, no que tem sido descrito como "colonialismo verde", o desenvolvimento do "futuro da bioenergia", envolvem demasiadas vezes a expropriação de comunidades e a degradação de ecossistemas.
Enquanto a indústria mineira — e os desejos capitalistas — subjugam e exploram a montanha e os seus habitantes, tratando-os como recursos a extrair, a violência transforma-se numa força de sobrevivência para estas comunidades através de infraestruturas coletivas e rituais incorporados. Se a exploração mineira resulta na rutura social, ecológica e mental, estas práticas, juntamente com as expressões artísticas, quebram a ordem social para criar mundos opostos, fundindo o individual e o coletivo, o reino ancestral e as gerações futuras, o humano e mais que humano, desencadeando uma compreensão alternativa da energia.
Maio - Novembro 2023
Música entre Espécies Companheiras
Música entre Espécies Companheiras é uma série de concertos concebidos e realizados para, e com, cães, os seus companheiros humanos e outras presenças mais-do-que-humanas que se queiram juntar a estas sessões. Inspirados no Manifesto das espécies companheiras de Donna J. Haraway e em estudos científicos sobre a inclinação dos cães para o som e a música, os concertos irão ter em conta as sensibilidades e capacidades auditivas únicas destes animais. Curadoria de Lovers & Lollypops.
17.06 – 27.08.2023
Prémio Paulo Cunha e Silva
Criado pela Câmara Municipal do Porto em homenagem ao antigo Vereador da Cultura Paulo Cunha e Silva (1962–2015), figura central da vida artística da cidade, o prémio, que se realiza de dois em dois anos, reconhece o talento das novas gerações de artistas nacionais e internacionais.
A edição deste ano reforça o compromisso do Prémio em promover a criação e o intercâmbio cultural ao estabelecer uma parceria com três programas de residência artística reconhecidos internacionalmente. Arquipélago Centro de Artes em S. Miguel, Açores; Cove Park, na costa oeste da Escócia; e o Pivô, em São Paulo, receberão um dos três artistas premiados, escolhidos por um júri constituído por três membros.
Os selecionadores para a edição de 2023 do Prémio Paulo Cunha e Silva são: a artista Ângela Ferreira, o diretor da Jan van Eyck Academie, Hicham Khalidi e a programadora cultural Tabitha Thorlu-Bangura.
Com: Euridice Zaituna Kala, Marilú Mapengo Námoda e Luis M. S, Santos (nomeados por Ângela Ferreira); Rouzbeh Akhbari, Kent Chan e Hira Nabi (nomeados por Hicham Khalidi) e Maren Karlson, Malik Nashad Sharpe (Marikiscrycrycry) e Eve Stainton (nomeados por Tabitha Thorlu-Bangura).
16.09 – 19.11.2023
Dueto – Maria Paz e Joan Jonas
Dueto é um convite a duas artistas para compartilharem um mesmo espaço expositivo. Começou como uma proposta dirigida a uma jovem artista do Porto para pensar num artista com quem gostaria de partilhar uma exposição. Recordando o impacto que a exposição no Museu de Serralves teve no seu processo de investigação, Maria Paz convidou Joan Jonas a partilhar o espaço expositivo da Galeria Municipal do Porto. Neste intercâmbio transatlântico de gerações, as duas artistas revelarão as suas investigações comuns em formas, cores e materiais. Curadoria de Filipa Ramos.
09.12.2023 – 10.03.2024
Norte Silvestre e Agreste
Quais são os padrões meteorológicos, os mitos e histórias, os ritmos, cores e formas, os habitantes humanos e não-humanos que constituem o Noroeste Ibérico na sua realidade e ficção?
Querendo saber sobre os rituais e modos expressivos de pessoas, animais, plantas, elementos e minerais, fomos em busca das raízes, terminações e tentáculos do Noroeste Ibérico, tentando encontrar, conhecer e permanecer nos locais onde estes poderiam residir. Ao fazê-lo, consideramos o passado, mas acima de tudo enfrentamos o presente-futuro desses espaços concretos e imaginados entre mares, bosques e assentamentos. Norte Silvestre e Agreste é uma exposição que percorre caminhos e linhas de intensidade, forças centrífugas que nos levam para além do Porto, rumo àquelas supostas margens onde as permutas eclodem para descobrir e partilhar as referências, histórias, palavras e ligações a esses lugares com um longo passado e um futuro ainda mais longo. Curadoria de Filipa Ramos e Juan Luis Toboso.